Lelê Carioca

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Foto: Johanes Duarte

Uma Honda CBR 650F, um tatuador e a vontade imensa de ter algo único. Essa é a situação que deu nascimento à “Lelê”, nome dado à motocicleta depois de passar pelo processo de customização. Daniel Tucci Duncan, carioca de 44 anos, tatuador e proprietário do Estúdio King Seven, tinha um sonho de customizar sua máquina e transformá-la numa raridade. Para isso, ele contou com o apoio da Benta Handmade Machines, oficina que está no mercado desde 2013 e já assinou mais de 100 customizações. “Quando o Daniel soube que eu abri a Benta, logo nos mandou a moto e veio para São Paulo para conversarmos sobre o projeto. Ele sempre gostou de motocicletas e queria algo legal para passear com sua esposa pelas ruas do Rio de Janeiro. Pensando nisso, deixamos a parte traseira do banco um pouco mais alta, para proporcionar mais conforto à garupa”, conta Billy Pasqua, proprietário da oficina.

A motocicleta chegou à customizadora com 4.000 km rodados, ou seja, praticamente zerada. “A premissa para o início do processo foi tirar as carenagens e preservar a posição de pilotagem, tudo isso visando o conforto do condutor. O tanque teria que ser de um metal resistente à ferrugem. O alumínio que temos no Brasil não é de extrema qualidade e pode prejudicar a bomba elétrica, por isso, optamos por utilizar o aço inoxidável. Aliás, o tanque foi nosso maior desafio e um dos itens que o dono da moto mais deu importância à mudança. Mantivemos o DNA original para que a chave do contato fosse utilizada, também, no tanque. O trabalho foi bem complexo nessa área da máquina”, conta.

O painel foi mantido original, para que todos os comandos tivessem sua funcionalidade intacta. “Dificilmente você vai ver o marcador de combustível em motos customizadas, e na Lelê isso foi mantido. A autonomia também não foi alterada, e a motocicleta ficou praticamente com a mesma capacidade de abastecimento. Os cabos de freio foram feitos sob medida, todos em aço inox, para preservar esses itens. A rabeta tinha que ser o mais “clean” possível, então colocamos uma fita de LED, já com o pisca embutido. Embaixo da máquina foi inserida uma proteção, uma espécie de para-lama, para proteger toda essa região. Uma coisa que eu não faço é alterar os ângulos das motos, portanto, não mexo na suspensão traseira e dianteira, na balança e no berço do motor. Seja qual for a motocicleta, essa é uma regra que eu adoto em todos os meus trabalhos. Um projeto desses demora, em média, três meses para ficar pronto”, descreve Billy.

Chassi modificado

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Foto: Johanes Duarte

A parte traseira do chassi foi toda refeita, além de que a máquina ficou bem mais leve, pois muita coisa foi retirada. “Apesar das peças retiradas serem de plástico, eram muitos itens, como a carenagem completa, por exemplo. Porém, o peso não é uma preocupação nos meus projetos. O dono pediu para que não fizéssemos o remapeamento e não mexer em nada no motor, pois ele considera que o desempenho da máquina já está de bom tamanho. O escapamento não poderia ser barulhento, então tomamos esse cuidado para silenciar qualquer tipo de barulho anormal. Quando ele liga a moto, ela é quase imperceptível. Em baixas rotações, é uma motocicleta superdócil. Os freios, rodas e pneus foram mantidos originais, também. A preocupação do tatuador era um design diferente, esse era o mote principal”.

Criação da Benta

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Foto: Johanes Duarte

Em 2013, nasce a Benta Handmade Machines, oficina de customização situada no Morumbi, bairro nobre de São Paulo. “Comecei do zero. Achei o ponto, montei a oficina, contratei o pessoal e comecei a treiná-los. Aqui na Benta, não importa qual seja a moto, independente do ano ou cilindrada, é sempre um novo desafio. Isso me motiva muito e faz com que eu queira aprender cada vez mais. A possibilidade de estar sempre fazendo algo novo é bem contagiante. Já fizemos mais de 100 motos, sempre com o prazer de um iniciante”, diz Billy.

Paixão desde criança

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Foto: Johanes Duarte

Guilherme Pasqua, de 41 anos, carinhosamente conhecido como Billy, é o proprietário da Benta Handmade Machines. Ele conta que sua paixão por veículos e aventura está presente em sua vida desde criança. “Desde pequeno sempre gostei de assuntos que remetem à aventura, como carros, lanchas, barcos, além das motos, é claro. Me formei em desenho industrial e fui morar fora do país, para continuar os estudos dessa área por lá. Foram dois anos na Espanha e um em Portugal. Fiz vários cursos para ter uma noção de espaço dos objetos, o que me ajudou muito na carreira atual. Quando voltei ao Brasil, senti uma dificuldade muito grande para me inserir no mercado. Trabalhei com comunicação visual em agências de publicidade e não me encaixei. Em 2007, resolvi mudar minha vida. Fiz uma pós-graduação em administração de empresas e fui trabalhar em concessionárias de motos. Nessas lojas, eu ficava praticamente o dia todo dentro da oficina, onde desenvolvi um gosto maior por essa parte, e então passei a aprender sobre o tema.

Billy fala do início no cenário e afirma que aprendeu ‘na marra’ a arte de customizar. “No começo eu não sabia nada. Não sabia a diferença entra as chapas, não sabia soldar, não conhecia as ferramentas e materiais. Minha primeira moto customizada foi uma TDM 225. Vi-me com uma caixa de ferramentas básica e uma moto à minha frente. Tive que me virar para transformar a motocicleta e atender o pedido do cliente. Depois disso, não parei mais. Virei muitas noites estudando para chegar aonde estou hoje”.

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